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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Petrobras deve revelar seu pior trimestre desde 2002


Queda do real pode levar a perdas financeiras acima de R$ 9 bilhões, mas sem efeito caixa; analista prevê reação negativa do mercado


Após o fechamento do pregão desta sexta-feira (3) a Petrobras (PETR3PETR4) deverá anunciar uma enorme queda em seu lucro líquido no segundo trimestre deste ano, para o pior resultado em mais de uma década. A retração pode chegar a 85% sobre o mesmo período do ano anterior, a R$ 1,58 bilhão, conforme média das projeções entre os analistas da Ágora e do Banco Espírito Santo.
Se confirmado, esse será o pior resultado trimestral da petrolífera desde o primeiro trimestre de 2002, quando o lucro líquido atingiu R$ 866 milhões. Naquela época, o balanço foi impactado pela forte queda nos preços de derivados do petróleo e da gasolina, levando a uma receita bem inferior ao que a empresa estava acostumada a apresentar.
Mas a situação operacional de agora em nada se assemelha ao daquele período, quando a receita operacional líquida era de apenas R$ 11,2 bilhões. Para o segundo trimestre deste ano, os analistas esperam um faturamento líquido de R$ 66,9 bilhões, maior que os R$ 66,1 bilhões do início do ano ou dos R$ 61,4 bilhões do mesmo trimestre de 2011.
Por outro lado, a projeção para o Ebitda (geração operacional de caixa) é de R$ 14,97 bilhões, queda de 9,4% na passagem anual e de 7,2% na trimestral.  
Câmbio: perdas de até R$ 9,3 bilhões
O grande vilão do resultado deve ser o câmbio, já que o real se desvalorizou 10,9% frente ao dólar no trimestre. Assim, o resultado financeiro líquido de R$ 2,89 bilhões entre abril e junho do ano passado deve se transformar em perdas de R$ 9,31 bilhões, segundo projeção de Oswaldo Alcântara Telles Filho, do Banco Espírito Santo.
Entretanto, esse valor já é fortemente esperado por aqueles que acompanham a empresa, além de ser um evento possivelmente temporário, já que depende da variação futura do câmbio. E, mais importante, não possui um efeito imediato sob o caixa, já que apenas ajusta o valor de dívidas que não venceram. Mesmo assim, Telles espera que o mercado tenha uma reação negativa no curtíssimo prazo caso a projeção se confirme.
"Esse lucro líquido poderá variar de acordo com as perdas cambiais efetivamente reconhecidas ou com possíveis reversões de imposto de renda", ponderam Luiz Otávio Broad e Ricardo Faria França, que assinam o relatório da Ágora.
Segundo o analista do Banco Espírito Santo, a companhia possui R$ 76,6 bilhões em passivos líquidos expostos aos efeitos do câmbio, segundo posição do final de março. Assim, apenas a variação cambial deve trazer um impacto de R$ 8,4 bilhões no resultado financeiro.
Produção: sinal amarelo
Do lado operacional, no entanto, os analistas esperam poucas surpresas, isso porque a petrolífera já divulgou seus dados de produção no trimestre - e que, aparentemente, não foram bem recebidos pelos investidores, já que as ações caíram em torno de 4% no pregão seguinte.
A empresa produziu, em média, 2,58 milhões de barris de óleo e gás equivalentes por dia em junho, abaixo dos 2,64 milhões na comparação com o mesmo mês de 2011 e dos 2,60 milhões de maio. A empresa justifica essa queda pela parada programada em duas plataformas na Bacia de Campos, as P-48 e P-53. Além disso, a produção no campo de Frade está interrompida desde que ocorreu o acidente que resultou no vazamento de petróleo por parte da British Petroleum.
"A produção acumulada no ano é decrescente mês após mês, e se essa tendência não for revertida, os investidores provavelmente terão que revisar seus números para baixo", alerta a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA, em relatório. O analista do Banco Espírito Santo espera uma queda anual de 1,9% na produção de petróleo, para 1,98 milhão de barris de óleo equivalente por dia, com um preço do barril Brent 6% menor.
Mais importações com preços defasados
O investidor também deve se atentar para alguma surpresa do lado do abastecimento – apesar de que o reajuste nos preços da gasolina e do diesel não será tão significativo para esse balanço, já que os novos preços foram anunciados em meados de junho e em julho.
“A companhia provavelmente enfrentará um aumento sazonal nas vendas de derivados de petróleo no Brasil e – como sua capacidade de refino continua limitada – todo o aumento da demanda terá que ser atendido pelas importações, atualmente uma operação negativa”, chama atenção Telles Filho.
Afinal, mesmo após reduzir os preços do diesel vendido às refinarias, analistas estimam que adefasagem dos preços pode chegar a até 15% sobre o mercado internacional.
Por fim, os custos devem ter uma alta maior por conta da inflação, das importações e do aumento do preço do barril de petróleo em reais, o que leva a mais desembolsos em royalties, alerta a equipe da Ágora. Assim, o analista do Banco Espírito Santo prevê uma alta de 5,1% nas despesas operacionais na comparação anual, para R$ 8,6 bilhões.

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