...PALAVRAS INSONORAS!!!
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Orgasmão e orgasminho: Por que o delas é tão longo e o nosso tão curtinho?
Agora que está claro o direito das mulheres ao prazer, agora que os homens estão devidamente instruídos sobre o que fazer, onde fazer e por quanto tempo fazer para levar as companheiras ao clímax, chegou a hora de discutir um tema relegado ao mais completo abandono social e científico, o orgasmo masculino.
Ninguém pergunta aos homens se eles estão satisfeitos com aqueles poucos instantes de prazer que a natureza lhes deu. Todo mundo assume que um breve e intenso espasmo de gozo é o que está disponível para os machos da espécie. Os homens galgam a montanha, se empenham de corpo e alma em alcançar o ápice e, quando finalmente chegam ao topo do Everest, o tempo de olhar a vista é menor que o de dizer abracadabra.
Compare isso com o que acontece no departamento ao lado: os orgasmos das mulheres, francamente, não acabam nunca. Chega a ser humilhante.
Lá está o sujeito, suado e sem fôlego, chegando e já saindo às pressas do Paraíso, quando a parceira começa a gozar. Ela vai compondo uma sinfonia majestosa e demorada – arfa e respira, contrai e geme, começa de novo – que o sujeito assiste da primeira fila, dentro da arrebentação, cheio de orgulho, cheio de admiração e, sejamos verdadeiros, cheio de inveja. Dá uma puta inveja aquele orgasmão de primeira classe, aquela rave dos sentidos, aquela celebração multimídia que faz o nosso gozo parecer uma cópia pirata, um mero e funcional arremedo reprodutivo.
Fui olhar na internet e descobri que os gregos já tratavam desse assunto na mitologia. Quando Zeus discute com a deusa Hera sobre quem entre os humanos tem mais prazer – ele acha que elas, ela acha que eles – os dois pedem a opinião do profeta Tirésias, que fora transformado em mulher e vivera como tal por sete anos. Fora prostituta, casara e tivera filhos. Questionado pelos deuses, o experimentado Tirésias explica que o gozo do homem é “uma décima parte” do gozo da mulher.
Os pesquisadores que mediram a duração dos orgasmos femininos com cronômetro chegaram a conclusões ainda mais desanimadoras para os homens. Eles descobriram que o gozo das mulheres começa com espasmos de prazer que duram entre dois e quatro segundos cada um. Eles vão se sucedendo, num crescendo, até o momento final. Uma mulher citada na pesquisa Masters & Johnson de 1966 contou 22 espasmos ao longo de... 43 segundos de orgasmo! Os estudos nem mencionam o tempo de orgasmo masculino, mas podemos imaginar qual seja: um ou dois espasmos, com duração de dois segundos cada um deles...
Notem que estou falando apenas de qualidade, não de quantidade de orgasmos. O Caetano já tinha registrado na música "Homem" a inveja da “longevidade e dos orgasmos múltiplos” das mulheres. Eu estou me concentrando no fato de que cada orgasmo delas parece valer meia dúzia dos nossos. Se elas, além disso, podem praticamente acender um orgasmo no outro, enquanto nós temos de parar, descansar e rezar a Eros para que não nos abandone no meio da segunda – bem, isso apenas aumenta a injustiça.
Claro, alguém vai alegar que os homens “sempre” gozam, enquanto não é tão fácil para as mulheres, mas as coisas não são tão simples. Os homens não gozam 100% das vezes. Homens cansados, bêbados ou distraídos também podem sair da mulher de mãos vazias, por assim dizer. Além disso, a mudança da cultura sexual desde os anos 60, com toda a sua preocupação com o corpo e o prazer da mulher, fez muito para melhorar a estatística de orgasmo feminino. O mesmo sujeito que acabou de ter um orgasmo de dois segundos se põe ao lado da patroa, solícito e cheio de dedos, para ajudá-la a gozar 10 vezes mais forte. É verdade que, mesmo assim, nem sempre as mulheres gozam, mas isso tende a acontecer em 2012 com mais frequência do que antes. Não houve evolução semelhante na vida sexual masculina.
Todos os homens concordam com o que eu estou dizendo? Nem imagino. Quando se trata de sexo, as prioridades históricas masculinas são a ereção e o tempo de retenção do orgasmo, traduzido em penetração. Recentemente (quer dizer, nas últimas décadas), adicionou-se a isso a mentalidade de que o foco tem de estar na cliente e que o importante é a qualidade do serviço prestado. O prazer do homem caiu para segundo plano.
Às vezes me ocorre, porém, que a clássica tristeza masculina depois do sexo pode estar ligada à qualidade do gozo. O silêncio e a introspecção talvez expressem frustração com orgasmos mais curtos e menos luminosos do que o esperado. Pode ser uma manifestação da raiva de quem se sente logrado. A melancolia pós-coito dos homens pode ser pura e simples insatisfação. Não sei se existe remédio para isso, mas talvez devêssemos pensar no assunto. No mínimo, homens com orgasmão poderiam ficar mais alegrinhos.
Da Época
Por IVAN MARTINS (editor-executivo de ÉPOCA)
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